Me ligaram para cobrar uma dívida… Que nem é minha! 

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Christiano Guimarães - Consultor em Segurança da Informação - Foto: Reprodução

Você tá em casa, cuidando da sua vida, e o celular toca. Número estranho. Você atende e vem: “Boa tarde, estou ligando para falar com o senhor Edvaldo…” 

Você responde que não é Edvaldo, que esse número é seu há anos.

A pessoa pede desculpa — mas no dia seguinte, liga de novo.

E aí, de repente, começam a vir mensagens no WhatsApp cobrando uma dívida.

Às vezes, de bancos que você nunca nem foi cliente. 

Se isso nunca aconteceu com você, dá um abraço em quem aconteceu. Porque tá virando rotina.

E a pergunta é:

Como conseguiram meu número? Por que tão me cobrando algo que não é meu?

Isso pode?

A resposta curta: não, não pode.

Cobrança é algo sério, mas tem limite.

Se a dívida não é sua, se os dados estão errados, ou se estão te perturbando com ligações atrás de uma pessoa que você nem conhece, isso não é cobrança — é abuso.

E quando isso acontece, alguém, em algum lugar, não está cuidando direito dos dados que tem.

Mas como eles têm meus dados?

É aí que entra a parte preocupante.

Seus dados — nome, telefone, CPF, endereço — podem ter sido repassados, vazados ou até comprados por empresas de cobrança que vivem de tentar “achar” qualquer telefone que pareça bater com o de alguém que deve. 

Às vezes, o erro acontece porque o número que você usa já pertenceu a outra pessoa no passado.

Mas em vez de atualizar as informações ou conferir os cadastros, as empresas saem ligando pra qualquer número que esteja na planilha.

E você, que nunca ouviu falar no Edvaldo, vira alvo de ligações, mensagens e até ameaça de protesto.

E a LGPD entra onde nisso tudo? 

A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) protege você contra esse tipo de situação.

Ela diz que empresas só podem usar seus dados com uma base legal clara e segura.

E, mais importante ainda: só podem tratar informações corretas, atualizadas e com o seu consentimento.

Se estão usando seu número errado, mandando cobrança sem você dever nada ou repassando seus dados sem autorização, estão desrespeitando a lei. 

O que eu posso fazer? 

Aqui vão passos simples e eficazes pra você não se estressar com o que não é seu:

  1. Se a cobrança não é sua, diga claramente.
    “Essa dívida não é minha. Esse número não é da pessoa que você procura. Por favor, removam meus dados.”
  2. Peça que parem de entrar em contato.
    Você tem esse direito. E a empresa é obrigada a te ouvir.
  3. Se insistirem, exija a exclusão dos seus dados.
    Você pode pedir isso por telefone, e-mail ou até WhatsApp. É seu direito como titular.
  4. Se nada disso funcionar, registre uma reclamação.
    Você pode procurar o Procon ou entrar em contato direto com a ANPD (Autoridade Nacional de Proteção de Dados).
    É simples, rápido e não precisa advogado. 

Conclusão 

Todo mundo sabe que cobrança existe. Mas errar o alvo e continuar insistindo é falta de respeito.

Você não é responsável por dívida dos outros. E muito menos obrigado a ficar atendendo ligação de gente que nem sabe quem você é. 

Se você nunca fez negócio com aquele banco, ou se o número nem é do tal Edvaldo que estão procurando, não aceite a culpa que não é sua. 

Seus dados são seus. Seu número é seu.

E o mínimo que qualquer empresa pode fazer é te tratar com respeito. 

*Christiano GuimarãesConsultor em Segurança da Informação 

Autor do Livro: Como Adequar Minha Empresa à Lei Geral de Proteção de Dados – Um Guia Prático