Em entrevista, o consultor Christiano Guimarães esclarece como a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) se aplica a empresas de todos os tamanhos e explica por que proteger dados pessoais é, ao mesmo tempo, assegurar o futuro do negócio.
Com o aumento de golpes e vazamentos de dados, proteger informações pessoais se tornou uma prioridade, inclusive para pequenas empresas. A LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) vem como uma ferramenta que não só evita prejuízos, mas também organiza processos internos e fortalece a relação com o cliente.
Preenchimentos de fichas cadastrais em farmácias, clínicas, escolas ou comércios tornaram-se parte da rotina de grande parte da população. Informações como nome, telefone e CPF, embora pareçam simples, são classificadas como dados pessoais e, quando mal gerenciadas, podem resultar em sérias consequências. Empresas de todos os portes estão expostas a esse tipo de risco, o que reforça a importância da adequação à LGPD.
Com abordagem técnica e experiência prática na área, o consultor em segurança da informação Christiano Guimarães detalha, em entrevista, como a LGPD se aplica às empresas e destaca a importância da adequação para prevenir riscos, organizar processos internos e garantir a conformidade legal.
Segundo o especialista, ainda há uma ideia equivocada de que a lei serve apenas para grandes corporações. Christiano Guimarães é direto ao afirmar que esse pensamento está errado.
“De forma nenhuma. A LGPD vale para qualquer negócio que armazene dados de pessoas físicas (de clientes até funcionários) – e isso inclui desde uma grande rede até uma clínica, escritório, farmácia ou escola de bairro. Se você coleta nome, telefone, CPF ou qualquer outro dado pessoal, já precisa estar atento. E o principal: cuidar dos dados é, antes de tudo, cuidar do seu negócio”, pontua.
Ele explica que o risco de vazamento ou uso indevido de dados não está apenas em grandes ataques virtuais, mas nas rotinas mais simples e comuns do dia a dia.
“Um computador sem senha, uma ficha de cliente esquecida no balcão, um rascunho com dados sensíveis jogado no lixo comum, um WhatsApp usado de forma errada, etc. Tudo isso pode gerar consequências. Basta que um titular – ou seja, o dono daqueles dados – acredite que suas informações foram expostas ou usadas de forma inadequada, para que a empresa passe a ser responsabilizada. E isso pode significar perda de confiança, clientes indo embora, processos judiciais e danos à imagem da marca. O problema, na maioria das vezes, não é má fé – é falta de informação sobre como lidar corretamente com os dados das pessoas”, explica Guimarães.
A LGPD, de acordo com o consultor, oferece exatamente os mecanismos para reduzir esses riscos e organizar a atuação da empresa.
“A LGPD exige que a empresa olhe para dentro: veja onde estão os dados, quem acessa, por quanto tempo ficam guardados, se estão protegidos. Esse processo organiza a casa e reduz muito os riscos. A empresa deixa de agir no improviso e passa a ter um padrão – e isso melhora até o relacionamento com o cliente”, ressalta.
Sobre as penalidades previstas na legislação, Christiano reforça que a fiscalização existe, mas que o maior prejuízo pode não ser a multa em si.
“Sim, tem. Mas não precisa ter medo – precisa ter atenção. A fiscalização existe, as multas são reais, mas o que muita gente não sabe é que a penalidade pode ser ainda mais dura do que o valor financeiro. A Autoridade Nacional de Proteção de Dados pode, por exemplo, proibir a empresa de acessar ou utilizar os dados pessoais que ela mesma coletou. Imagina uma escola impedida de consultar as informações dos seus alunos, ou uma clínica odontológica proibida de mexer nos prontuários dos pacientes. Isso pode comprometer totalmente o funcionamento do negócio, mesmo que não haja má intenção. E essa restrição pode valer por um período ou até de forma definitiva, dependendo da gravidade do caso”, afirma o consultor.
Além da legislação, há um fator cada vez mais importante para a sobrevivência de qualquer negócio: a confiança do cliente.
“O cliente está cada vez mais consciente. Se perceber que seus dados estão sendo tratados de qualquer jeito, ele vai embora. E quando isso acontece, o prejuízo vai muito além da multa. Perder a confiança do cliente pode ser o impacto mais difícil de reverter”, alerta ele.
Para começar a se adequar, segundo o especialista, é preciso primeiro conhecer os próprios processos.
“O primeiro passo é simples: saber que tipo de dados sua empresa coleta e onde eles estão. Depois, precisa limitar quem acessa, proteger com senha, fazer backup. Também é importante avisar o cliente sobre o uso desses dados – com transparência. E, claro, começar a registrar tudo isso em documentos. A LGPD não exige que tudo seja perfeito de uma vez, mas quer que a empresa esteja no caminho certo. A adequação à LGPD não é difícil, mas sim muito trabalhosa, por tratar de ajuste de cultura de todos os que trabalham na empresa”, esclarece Guimarães.
Com experiência prática na área, Christiano conta que tem atuado com segurança da informação e projetos de adequação à LGPD há cerca de seis anos. Nesse período, prestou consultoria para mais de 100 empresas de diversos setores.
“Desde pequenas clínicas e escolas até empresas maiores da área da saúde, educação, comércio e advocacia. Cada caso exige um olhar prático, direto e adaptado à realidade do negócio”, salienta Guimarães sobre a personalização da prestação do serviço e os conhecimentos abrangentes.
Além do trabalho de consultoria, ele é autor de um livro voltado à aplicação prática da LGPD no ambiente empresarial.
“Lancei um livro voltado para quem precisa adequar empresas à LGPD de forma prática e descomplicada. Chama ‘Como adequar minha empresa à Lei Geral de Proteção de Dados – Um Guia Prático’. Ele serve tanto para empresários quanto para profissionais que atuam com compliance, direito ou gestão. O foco é ensinar, passo a passo, como colocar a LGPD em prática, sem complicar e sem cair no juridiquês. É uma ferramenta direta, voltada para a realidade do dia a dia”, menciona ele o eBook que pode ser adquirido no site ou aplicativo da Amazon por R$ 38,80.
Christiano finaliza lembrando que a LGPD não deve ser encarada como um problema, e sim como uma solução.
“A LGPD ajuda a empresa a se organizar, se proteger e transmitir mais confiança para o mercado. E o mais interessante é que, mesmo após quase cinco anos da lei em vigor, mais de 70% das empresas brasileiras ainda não estão totalmente adequadas. Ou seja, quem começa agora ainda está em tempo de sair na frente.
Quem deixa para depois, além de correr riscos maiores, acaba gastando mais para corrigir erros que poderiam ter sido evitados. A LGPD não é uma barreira. Ela é uma ferramenta de gestão, proteção e credibilidade. Esta aí para proteger o cidadão, sim — mas também para ajudar o empresário a fazer melhor”, aconselha o consultor.
Em um cenário onde a confiança é cada vez mais valorizada, a proteção de dados pessoais tornou-se uma responsabilidade essencial para qualquer empresa que lida com informações de clientes. Mais do que uma obrigação legal, a adequação à LGPD representa uma oportunidade de aprimorar processos, prevenir falhas e demonstrar compromisso com a segurança e o respeito ao consumidor. Longe de ser um obstáculo, a lei pode funcionar como uma aliada estratégica, ajudando o empresário a conduzir seu negócio de forma mais segura, eficiente e transparente.