Consulta marcada, celular bombando: posso mesmo receber essas mensagens? 

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Christiano Guimarães - Consultor em Segurança da Informação - Foto: Reprodução

Você vai ao dentista, ao médico ou faz uma sessão de fisioterapia. Lá na recepção, pede pra marcar o horário e preenche seus dados. Tudo certo até aí. 

Mas depois de alguns dias, seu celular começa a receber mensagens:

“Está na hora da sua limpeza!”

“Promoção de check-up só essa semana!”

“Agende seu retorno com 15% de desconto!” 

E você pensa:

“Mas eu nem pedi isso… só marquei uma consulta.”

Se você mora em Votuporanga, é bem provável que já passou por algo parecido. Consultórios odontológicos, clínicas médicas, fisioterapia, estética, pilates, academias — todos hoje em dia usam WhatsApp ou SMS para se comunicar com os pacientes. Mas será que podem mesmo mandar essas mensagens? A resposta é: depende. 

Tem diferença entre lembrete e propaganda? 

Tem, sim — e muita. 

Se você agendou uma consulta e recebe um lembrete com data e horário, isso é considerado um aviso útil, que faz parte do atendimento.
Agora, se a clínica começa a te mandar propaganda, promoções ou campanhas que você não pediu, aí o assunto muda.

Isso já entra como marketing — e precisa da sua autorização. 

E o que a LGPD diz sobre isso? 

A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) protege seus dados pessoais, como nome, telefone e até o histórico de atendimento.

Ela diz que nenhuma empresa pode usar essas informações do jeito que quiser.

Só pode se: 

– Te avisou antes como usaria seus dados,

– Explicou pra que eles servem,

– Pediu sua permissão,

– E te deu a chance de dizer “não”. 

Ou seja: preencher sua ficha pra agendar uma consulta não significa que você aceitou receber propaganda depois. 

“Mas é só uma mensagenzinha…” 

É comum ouvir isso — principalmente de empresas que ainda não entenderam a importância do respeito à privacidade. 

Mas pense comigo: se uma clínica já usa seu telefone sem perguntar, o que mais será que ela faz com seus dados?

Onde mais essas informações podem estar sendo usadas?

Com quem estão sendo compartilhadas? 

A confiança que você tem como paciente começa na forma como cuidam dos seus dados. 

O que você pode fazer? 

Aqui vai o que a maioria das pessoas ainda não sabe — e deveria saber: 

  1. Você pode dizer que não quer receber esse tipo de mensagem.
    Não precisa aceitar tudo que mandam. Basta responder e pedir que removam seu número da lista de envio. Isso é um direito seu.
  2. Você pode pedir para usarem seu telefone só para avisos importantes.
    Se quiser continuar recebendo lembretes de consulta, mas não quer propaganda, é só deixar claro. A empresa tem que respeitar.
  3. Você pode pedir que seus dados sejam apagados do sistema.
    Fez um único atendimento e não pretende voltar? Pode pedir que excluam seu nome, telefone e tudo mais. E a empresa tem obrigação de responder.
  4. Se não respeitarem, você pode denunciar.
    Se a clínica ignorar seu pedido, você pode fazer uma reclamação na Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) ou no Procon. Você não precisa ser advogado pra isso.

E as clínicas, o que deveriam fazer? 

Se você é dono ou trabalha em consultório, fica um recado importante:
mandar mensagens sem autorização pode afastar o paciente. 

O ideal é sempre perguntar antes:
“Você aceita receber avisos ou campanhas por mensagem?”
Se a resposta for sim, ótimo. Mas se for não, respeite. 

Isso não é só uma regra da LGPD — é uma forma de demonstrar cuidado com quem confia em você. 

Conclusão 

Se você está recebendo mensagens que não pediu, não precisa aceitar isso como normal.
Seus dados são seus. Seu telefone não é vitrine. E você tem o direito de escolher com quem quer se comunicar. 

Na dúvida, pergunte. Questione. E se não gostar do jeito que tratam seus dados, escolha outra clínica.
Porque respeito começa no atendimento — e também passa pelo seu celular. 

*Christiano GuimarãesConsultor em Segurança da Informação 

Autor do Livro: Como Adequar Minha Empresa à Lei Geral de Proteção de Dados – Um Guia Prático