Como conseguiram meu número? 

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Christiano Guimarães, consultou de Segurança da Informação - Foto: Reprodução

Você está no meio do dia, pensando em mil coisas, quando o celular toca. Número desconhecido. Você atende, curioso, meio desconfiado. E do outro lado vem:

“Oi… você está aí?”

Ou então uma voz robótica: “Boa tarde, João. Aqui é da [empresa que você nunca ouviu falar].”

E a pergunta vem na hora:

Como essa empresa conseguiu meu número? E por que ela sabe até o meu nome? 

Se você já passou por isso (e é bem provável que sim), saiba que não está sozinho. Essa é uma das queixas mais comuns hoje em dia — e, mesmo com a LGPD em vigor, ainda parece que nossos dados estão espalhados por todo lado.

Afinal, como essas empresas conseguem nossos contatos?

Na maior parte das vezes, o caminho é bem menos tecnológico do que parece: nossos dados são comprados ou trocados em listas informais entre empresas, operadoras, consultorias, agências e plataformas de marketing.

E essas listas não vêm só com nome e telefone, não. Dependendo do caso, incluem idade, e-mail, cidade, interesses, perfil de consumo e até informações de saúde. 

Isso tudo é construído a partir de cadastros que a gente preenche por aí sem perceber: sorteios online, formulários em sites, promoções em farmácias, compras em e-commerce ou até um simples “aceito os termos” sem ler nada.

O problema é que, uma vez capturado, o seu dado pode ser vendido e revendido — muitas vezes sem você nem saber.

Mas e a LGPD? Isso não é proibido?

Sim. Desde que a LGPD entrou em vigor, empresas só podem usar seus dados pessoais com base legal legítima. Isso significa, na prática, que:

– Você precisa saber que estão coletando seus dados,
– Precisam te dizer para quê,
– Precisam proteger essas informações,
– E te dar a chance de dizer “não” a qualquer momento. 

Se alguém te liga sem que você tenha autorizado, a empresa tem a obrigação de explicar por que está fazendo esse contato. E, se não conseguir justificar, está em violação da lei. 

Tá, mas dá pra resolver isso? 

Não existe fórmula mágica, mas tem coisa que ajuda — e muito. Aqui vão alguns caminhos práticos: 

  1. Evite entregar seus dados à toa.
    Preencher um formulário ou participar de uma promoção parece inofensivo, mas pode ser justamente o ponto de entrada. Se for inevitável, procure saber qual a política de privacidade da empresa.
  2. Se receber uma ligação suspeita, pergunte.
    Você pode (e deve) perguntar:
    “Como conseguiram meu contato?”
    “De onde veio essa informação?”
    Se a resposta for vaga ou nenhuma, isso já diz bastante. 
  3. Peça a exclusão dos seus dados.
    Você tem esse direito. Pode solicitar por telefone, por e-mail ou por escrito. E a empresa tem obrigação de atender — ou responder formalmente.
  4. Use o ‘Não me Perturbe’ e cadastros de bloqueio do Procon.
    Esses serviços ajudam a cortar o excesso de ligações, principalmente de operadoras e bancos.
  5. Evite consumir de empresas que desrespeitam sua privacidade.
    Se a empresa liga sem permissão, imagina como trata o resto dos seus dados.
    Você pode até não processar, mas pode escolher onde coloca seu dinheiro. E isso fala alto. 
  6. Se quiser ir além, denuncie.
    A ANPD (Autoridade Nacional de Proteção de Dados) recebe denúncias, e o Procon também. Não precisa advogado. Só atitude.

E se eu já “caí” e meus dados estão por aí? 

Sem pânico. O importante é começar a se proteger daqui pra frente. Sempre que possível, entre em contato com as empresas que estão te incomodando e peça que removam seus dados. E, claro, fique atento a todos os cadastros futuros. 

Concluindo 

Se você sente que seu número virou público, que qualquer empresa te liga como se te conhecesse… não é paranoia. É o reflexo de um mercado que por anos tratou seus dados como se fossem de ninguém. 

Mas hoje, com a LGPD, os dados são seus por direito.
E você não precisa aceitar tudo calado. 

Comece perguntando, se informando, dizendo não quando for necessário — e escolhendo com quem você realmente quer se relacionar.
No fim das contas, proteger seus dados é também proteger seu tempo, sua saúde mental e sua liberdade.

*Christiano Guimarães

Consultor em Segurança da Informação

Autor do Livro:  

Como Adequar Minha Empresa à Lei Geral de Proteção de Dados – Um Guia Prático