Carnaval para quem?

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Ailton Rosa Assis, um nome que praticamente só os historiadores votuporanguenses conhecem, mas o cenário muda de figura quando o chamamos pelo seu verdadeiro nome: Borboleta.

O músico que foi responsável, durante muitos anos, por todas as fanfarras de escolas, da APAE, dos blocos de carnaval que ensaiavam o ano todo para descerem a rua Amazonas neste período.

Para os mais notívagos, lembro que na minha adolescência também havia os trios elétricos que fechavam a rua São Paulo em frente à antiga cooperativa.

No entanto, hoje não é mais assim em nossa cidade.

Em sua definição, Carnaval é uma festa popular que ocorre em diversos lugares do mundo e está ligado ao calendário litúrgico da igreja católica, por ser realizado nos três dias que antecedem à quaresma, em que o consumo de carne é liberado.

Sua origem não se sabe ao certo. Dando créditos ao Padre Gilmar, que em sua coluna do dia 02 de fevereiro de 2024, escreveu que seu início pode ter sido na festa do dragão chinês, que abriria a colheita de arroz, ou no Egito, por meio do culto à deusa Isis e ao touro Ápis, ou na Grécia antiga, nas bacanais – culto ao Deus Baco.

Como adendo, e buscando uma referência cinematográfica no filme Cleópatra de 1963 com Eilzabeth Taylor, vejam se a entrada de Cleópatra em Roma, com Júlio César à sua espera, não se assemelha aos carros alegóricos das escolas de samba do Rio de Janeiro e São Paulo. Era algo suntuoso.

Apesar da origem incerta do festejo, algo têm em comum: a confluência folclórica de energias sociais para sua realização e a produção espontânea de cultura.

Vejam como são lindos os blocos de carnaval realizados ainda hoje nas ruas de São José do Rio Preto/SP, em especial em frente ao Centro Cultural Vasco, e em Engenheiro Schmitt, com vários jovens misturados aos mais velhos tocando em fanfarras.

Pensando em nossa cidade, a festa deixou de ser popular e nas ruas e passou a ser realizada, já há muitos anos, em recintos fechados, inacessíveis à população devido ao valor do ingresso e neste ano de 2024 não foi diferente: muitos shows em clubes e em recintos fechados, como foi o caso do Play Votu.

Mais ainda, Votuporanga se tornou notória nacionalmente por este movimento de privatização da cultura, primeiramente pelo Carna Votu e depois pelo Bloco OBA, este agora passou a ser realizado em São José do Rio Preto, não se sabe muito bem o porquê, se por motivos econômicos, ou sanitários, ou políticos.

Mal comparando em termos de grandeza de evento, a cultura popular brasileira também foi subserviente à Fifa em 2014 quando da realização da Copa do Mundo em nosso país. 

Lembro bem, porque à época eu residia na cidade do Rio de Janeiro e muitos protestos com faixas de “Fifa go home”, ou “Quero serviços públicos de padrão Fifa” foram expostos por muitos lugares. E se noticiava que até palavras do nosso idioma, mais de 200, só poderiam ser usadas vinculadas à Copa do Mundo se royalties fossem pagos à entidade. O caso mais notório foi do termo “pagode”. 

Por fim, voltando ao nosso município, algo mais grave ainda aconteceu em meu ponto de vista, não apenas houve este emparedamento da festa, mas os meios de comunicação oficiais do poder público municipal foram utilizados para dar visibilidade às festas promovidas por aqueles que estão na estrutura da administração pública e detêm cargo de secretariado, como foi o caso do Play Votu. 

Assim, um pouco de nostalgia e história fazem parte do acerto de ponteiros para um futuro mais cultural e popular.

Bruno Arena: Mestre em Direito Penal e Humanos pela Universidade de Salamanca (Espanha). Especialista em direito penal e direito eleitoral. Presidente do Rotary Club Votuporanga 2022/23. Vice-Presidente da ACILBRAS. Membro do Observatório da Democracia. Proprietário do Cine Votuporanga.  Autor e tradutor de livros. Advogado. Instagram @adv.brunoarena.