SOBRIEDADE JÁ:
Por Carlinhos Marques
É comum a gente ouvir, que circunstâncias difíceis são aprendizados. A tal história que “após a tempestade vem a bonança”, mas sinceramente quando somos nós que estamos vivendo estas tempestades a gente esquece isso. Somos muito bons para argumentar aos outros essa tal vantagem dos momentos difíceis, mas na hora que a realidade é nossa, isso perde o sentido, e só vemos o mal aparente do momento.
Existe uma conclusão popular muito sábia sobre isso que diz assim: “Há uma coisa muito ruim nos momentos bons, e uma coisa muito boa nos momentos ruins.” Os dois passam!
Duvido que você não tenha vivido momentos que parecem eternos pelas durezas, pelas dificuldades, pela falta de expectativa… e passou! E via de regra sempre aparece aquele que diz: Que bom, passou, está pronto pra outra né… Será?
Aí que tá… Nunca estamos prontos para o fim dos momentos bons e muito menos prontos para o começo dos momentos ruins…, mas precisamos buscar lucidez para enxergamos além do fato em si, além do momento em si.
Quantas histórias de pessoas que assumiram uma postura diferente depois que passaram por dificuldades. Quantas ONGs foram criadas por situações traumáticas que surpreenderam a vida das pessoas, quantas mães que perderam os filhos para as drogas e hoje trabalham com prevenção; famílias que perderam filhos em acidentes, em assassinatos, e hoje se juntam e salvam outras vidas. Quantas empresas saíram muito mais fortes depois de crises que pareciam insuperáveis. Pessoas que descobrem seu potencial solidário, as vezes escondido delas mesmas; pessoas que perdem o emprego e se reinventam, recomeçam, e se descobrem empreendedoras, forçadas pela circunstância tida a priori como trágica.
Um exemplo recente da história, o Japão que arrasado na segunda Guerra Mundial aparece hoje como uma grande potência…
Veja que as crises devem serem vistas como algo passageiro, a gente nunca deveria dizer: Esse país é uma crise, e nem, essa pessoa é um problema, mas sim esse país está em crise e esta pessoa está com um problema, colocando assim, automaticamente passamos a ideia da sazonalidade, do caráter passageiro da crise e do problema.
Existe uma citação bíblica, se não me engano, no Livro do Eclesiástico que diz que o ouro e a prata se experimentam no fogo. E o que é o fogo para o ouro e para a prata? É adversidade.
Lembro de uma reportagem onde vi o processo de transformação do ferro em aço: é impressionante o processo de têmpera que o ferro passa para se transformar em aço. Entra num forno de alta temperatura, fica praticamente líquido; quanto mais quente e mais tempo fica no fogo, mais resistente ele se torna, logo, mais valioso também.
Você já deve ter comprado, por exemplo, uma chave de fenda nestas lojas de 1,99 e no primeiro parafuso mais apertado que você foi tentar soltar, ela se desmanchou… Pois é, aquele material não passou por uma têmpera necessária, não passou pela adversidade suficiente do calor do fogo que é capaz de mudar a estrutura daquele material, por isso vale tão pouco, uma ferramenta que passa por essa têmpera com certeza vale muito mais, dura mais, e cumpre seu objetivo.
Somos todos, ferramentas, de que material é você?
Fiz uma brincadeira no título desse artigo, com aquele ditado popular que diz: “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. Ele insinua a persistência, a determinação do aparentemente mais fraco. Só que fiz uma pequena mudança, e preferi dizer que: “Alma mole em vida dura, tanto bate até que cura”.
E o que seria a alma mole? É justamente a alma aberta para o aprendizado que a vida dura trás, é estar aberta ao novo, tirar todo o lado positivo quando a vida dura bater, quando a crise bater. E ela vai bater. Pois faz parte do processo de amadurecimento esse bater da vida.
E é importante que quando a vida dura bater, seja sua alma mole o suficiente para que a cura aconteça; A cura é o fechamento desse ciclo.
Como a gente disse sobre a cura do ferro, a cura do concreto, do aço; cura é transformação de matéria, é deixar a matéria pronta.
E aí, já se sentiu curado alguma vez pelo fogo da adversidade?
Ou estava com a alma dura demais a ponto de renunciar a parte mais importante do processo: A cura?
As adversidades se sucedem, mas as curas também.
Poderíamos dizer que depois de toda tempestade vem a cura.
O que não me provoca a morte, com certeza te deixará mais forte.
Falo muito aqui para os nossos acolhidos no Novo Sinai que o vencedor não é aquele que bate mais forte, mas aquele que suporta mais as pancadas!
Se numa luta de boxe, um boxeador ficar 9 rounds batendo, batendo, mas não estiver preparado para receber golpes, corre o risco de em um contragolpe, não resistir, e perder a luta.
Portanto numa luta de box, ou na vida, o mais forte não é aquele que mais bate, mas aquele que mais resiste quando lhe batem.
Eu estive no Rio de Janeiro durante as Paraolimpíadas e fiquei impressionado com a superação daqueles atletas. Com certeza por detrás daquelas medalhas havia muita história de trauma, de dor, e de superação. Era espantoso, aqueles homens pedalando com as mãos, o time de basquete arremessando para cesta sentado na cadeira de rodas, outros nadando sem parte dos braços ou das pernas; se descobriram como atletas depois do trauma, depois da crise, depois do golpe…
Nós precisamos ser “atletas da vida”!
Você quer subir ao pódio? Quer as medalhas? Então aproveite quando a vida lhe treinar para as vitórias.
Quando as circunstâncias lhe tirarem aquilo que você não imaginava viver sem se reinvente!
Nunca chame de fim o que Deus está chamando de recomeço…
Momentos passam, sejam bons ou ruins! Deixe-se curar pelo remédio da circunstância.
Evite os atalhos; eles podem limitar seu verdadeiro condicionamento para a próxima prova.
Deixe a lágrima cair! Lágrimas são o suor da alma, o suor de uma alma em treinamento!
Deixe o momento difícil tecer a melhor versão de você mesmo.
Deixe esse tempo difícil ser o professor de sua alma. Talvez até agora você tenha apenas conhecido o caminho; chegou a hora de trilhar o caminho.
Lembre-se, momentos difíceis geram histórias, e um homem sem história não viveu; talvez tenha, no máximo, existido, e nós não nascemos para existir ou durar, nascemos pra viver e fazer histórias.
Por Carlinhos Marques
Presidente Fundador da Comunidade Terapêutica Novo Sinai, que acolhe dependentes químicos desde 2005 de forma voluntária e gratuita, idealizador do projeto “Sobriedade Já”
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